9 de setembro de 2011

Minguante

Num mundo branco, onde nada se via que não fosse o horizonte, um menino habitava um iceberg. Não era uma casa como a gente da cidade está habituada, mas era um lar, mesmo que ele - o frangote - não tivesse nada pra guardar.
Diziam até que o tempo pouco passava por ali, que os ventos mão ousavam fazer a curva, que a terra era fria de congelar a unha.
Mas que não se pense que o rapazote era sozinho, porque a qualquer momento e sem marcar hora aparecia o leão-marinho, foca, pinguim, baleia, bicho que voa de todo tipo e tamanho. Era como um farol aquele homem pequeno.
O que ele mais gostava era de ouvir o som do silêncio. Aquele instante assim em que o nada acontece. Onde tudo parece estar parado, mas não estava.
O seu planetinha estava diminuindo de tamanho.O seu mundinho já tinha sido imenso, mas começara  de há muito a quebrar, e os pedacinhos nunca mais se viram; foram assim se distanciando de uma forma que não mais podiam voltar.
Ele olhava a lua nova e pensava se um dia o seu mundo ia aumentar também, mas até aquele dia não tinha crescido - só ficado assim minguante - como um vintém. O gurizote sabia porque media sempre de ponta-a-ponta o"Ice" como ele o apelidara.
Soube, por meio de um bilhete (com letras miúdas e muito bem torneadas) contido numa garrafa, viajante das águas, que os homens, as pessoas, só tinham uma preocupação: eles próprios.
Ele ouvira algumas lendas, histórias horripilantes, sonhos-pesadelos, de gente que vivia amontoada de compromissos e que apesar de habitar o mesmo lugar, quase nunca se falava. Se viam na televisão, no computador, no celular... mas no fundo elas não precisam mais existir, só a imagem delas é que se relacionava com outras imagens. Era, assim, como se a parafernália tecnológica esquecesse de abençoar a vida, a pele, a terra,a água...
Ele, então, minguava os sentimentos e via o seu planetinha, o"Ice", diminuindo; até que o menino não pode mais caminhar nem se deitar, nem brincar.
A última coisa que se soube, é que ele se equilibrava num único pé e, a medida que o seu pé crescia, o planeta diminuía. Enquanto isso, as pessoas atarefadas continuavam correndo amontoadas...
                                                                     (Autor Desconhecido)


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